A partir de , entra em vigor nos Estados Unidos uma sobretaxa de 40% sobre os produtos brasileiros, que se soma a uma alíquota já existente de 10%, atingindo 50% ou mais em diversos setores, incluindo café, soja e carne bovina. A imposição dessas tarifas não segue critérios estritamente comerciais, mas reflete decisões de natureza política, evidenciando como o mercado agropecuário sofre interferência por fatores externos não relacionados à economia pura — com destaque para estados exportadores como Rondônia e Acre1.
Qual é o real impacto da medida?
De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), o setor esperava exportar cerca de 400 mil t de carne bovina para os EUA até o final de 2025. Com a tarifa, esses embarques tornam-se economicamente inviáveis, resultando em perdas estimadas em US$ 1 bilhão só na carne, sem contar derivados como sebo e conservas, que também terão alíquotas elevadas2.
A Abrafrigo, entidade que reúne frigoríficos regionais, projeta prejuízos de até US$ 1,3 bilhão em 2025, podendo alcançar os US$ 3 bilhões nos anos seguintes3.
O impacto é ainda mais severo quando se considera que os descontos anteriores foram integrados: a tarifa já vinha crescendo desde janeiro (26,4%) e chegou a 36,4% antes da sobretaxa definitiva, totalizando até 76,4% de imposto sobre cada tonelada exportada4.
Panorama regional: quantas toneladas impactam Rondônia?
Embora não existam projeções oficiais por estado, é possível fazer uma estimativa baseada no desempenho das exportações. Rondônia, um dos principais exportadores brasileiros com rastreabilidade e certificações sanitárias, contribui significativamente para o volume exportado aos EUA.
Se considerarmos que os 200 mil t a serem perdidas até o final do ano correspondem a cortes típicos das exportações brasileiras5, é plausível que Rondônia seja responsável por 10% a 15% desse volume, o que implicaria em 20 a 30 mil toneladas com risco de inviabilidade comercial direta até dezembro de 2025 — impactando fortemente frigoríficos locais, cooperativas e produtores regionais.
Esse excedente ainda pode pressionar os preços da arroba no mercado interno, já que os cortes exportáveis costumam ter baixa aceitação na distribuição nacional — como os dianteiros bovinos usados para hambúrgueres nos EUA6.
Estratégia de resposta: governo e setor reagem
- Busca de novos mercados prioritários, como Japão, Coreia do Sul, Turquia, México e Oriente Médio, com missões diplomáticas em andamento7;
- Promoção do acordo Mercosul-União Europeia, que prevê cotas de exportação para carne bovina e outros produtos agropecuários8;
- Ações emergenciais como linhas de crédito e incentivos à exportação, semelhantes às adotadas durante a pandemia, para minimizar impactos regionais como os esperados em Rondônia9.
A expectativa do setor é que, mesmo com a saída dos EUA como um mercado de alto valor, outros compradores, especialmente na Ásia, possam absorver parte da produção excedente, ainda que pagando preços mais baixos que os americanos10.
Conclusão
A tarifa de 50% imposta pelos EUA à carne bovina brasileira ameaça paralisar exportações estimadas em 400 mil t até o fim de 2025, com perdas diretas de US$ 1 a 1,3 bilhão12.
Estima-se que Rondônia seja responsável por 20 a 30 mil t desse volume exportado ao mercado americano, e que essas vendas se tornem inviáveis com a nova tarifa.


